Este texto segue na sequência dos dois anteriores sobre o mesmo tema, com os quais concordo na generalidade e aos quais venho acrescentar alguns pontos.
Em primeiro lugar anoto que este assunto é daqueles típicos temas portugueses, que à semelhança de outros como o do Aeroporto de Lisboa, ou da Av. Nun’Álvares e de tantos outros similares, não há meio de se resolverem. Recordo que desde a construção da Ponte D. Luis há quase 140 anos, na qual se desventrou esta parte da cidade, até os dias de hoje, assistimos a uma mutilação urbana inqualificável. Aliás uma imagem que bem representa esta inércia, é a que abaixo coloco, de uma empena que se mantém por tratar há 140 anos.
Passados tantos anos e após 2 projectos do Arq. Siza Vieira, não percebo bem a razão de vir revisitar o tema com a mesma decisão. Não porque tenha alguma coisa contra o primeiro ou o segundo projecto, são interpretações feitas à data, por quem naturalmente merece todo o respeito, mas voltar ao mesmo quando as condições se vão alterando é que não se entende, não fosse disso exemplo o facto de o próprio Siza ter feito em diferentes alturas dois diferentes projectos.
Hoje a Avenida da Ponte, que o Metro fez o favor de contribuir para deixar de ter sentido (em vez de colocar o “Eléctrico” numa nova ponte) deixou de permitir a ligação natural e histórica entre as duas cidades, aniquilou a Avenida da República em Gaia e, do lado do Porto, transformou a Avenida do mesmo nome num beco sem saída.
Hoje não há qualquer motivo para se chamar ao local de Avenida, afinal é apenas uma rua que liga a parte baixa à da Sé. Esta é uma nova realidade, que deveria dar lugar a um novo projecto adequado a esta condicionante e não, ao eixo de avenida cuja escala de entrada na cidade já não se manifesta.
Deveria ser habitacional, Cooperativa? Comercial? Museu?
Sim, devia ter exactamente um conjunto de valências, que lhe trouxessem diversidade e vida, contrariamente a uma única interpretação seja de apenas um projectista, seja pior do que isso de uma volumetria e Arquitectura única e feita à escala conveniente.
Mas acrescentaria que esta parte da cidade não apresenta apenas este cancro urbano, existem outros próximos e vizinhos, que se não têm a mesma data de nascimento, têm tido ao longo dos anos o mesmo tratamento.
O Parque das Camélias caracteriza-se por uma vasta área urbana, há muitos anos entregue a um parque rodoviário sem qualquer sentido. É uma ruptura urbana e ambiental no centro da cidade, que necessita urgentemente de uma solução urbana de enquadramento com a cidade e que, infelizmente, a gestão “urbana” dos últimos anos continua a olhar para o lado.
O viaduto rodoviário, que foi o mais caro do país quando construído, o qual demoliu à semelhança da Avenida da Ponte inúmeras casas e cidade, nunca serviu para grande coisa. Ligava a saída da ponte à cota alta da cidade. Foi uma tentativa de retirar os automóveis do centro, mas como não tem saída digna desse nome, acabou por ligar o nada a coisa nenhuma.
Hoje sem existir entrada na cidade, permanece hirto e imutável na paisagem urbana. Aliás tão hirto e tão sem sentido, que nem como plataforma de vistas sobre o Património consegue servir.
Merecia voltar a integrar o Passeio das Fontainhas e transformar-se numa zona privilegiada de uso urbano, pois trata-se de uma das melhores áreas da cidade.
A Câmara actual, no final do terceiro mandato, lembrou-se agora da Av. da Ponte, porquê? Vai encomendar de novo um projecto ao Siza e já agora, o outro lado da Avenida ao Souto Moura?
Queixa-se a Câmara das paragens do MetroBus e faz o mesmo?
Estas áreas da cidade necessitam de um concurso público alargado e de uma discussão pública séria e igualmente alargada à cidade.
Contrariamente, tenho medo que façam o mesmo que fizeram com o concurso da Via Nun’Álvares, um concurso caseirinho e pequenino, com prémios baixinhos e soluções caseirinhas. A Via Nun’Álvares, ou melhor a UOPG que se encontra em prática, é um belo exemplo de uma oportunidade perdida. Mas cabeças pequeninas só conseguem soluções pequeninas.