por Raquel Pinheiro
Tal como o Alexandre, quando vejo o número de habitações apontadas como possibilidade para a Avenida da Ponte, 200 ou 300, penso nos erros urbanísticos dos bairros sociais, e não só, e suas monovalências.
Penso, igualmente, em quantos automóveis se traduzem 300, ou 200 habitações. 300? 200? O dobro desses números? Metade desses números? Supondo um automóvel por habitação, teríamos 300, ou 200.
O Tiago gosta da ideia de habitações grandes, para famílias que se queiram fixar na zona por muitos anos. Olhando para a zona como está, como poderá ficar, porque quereria ir viver para ali, com ou sem família? Por ora, temos de um lado o casario do Centro Histórico, a Sé, supermercado de estupefacientes. Do outro, a movida do Mercado Time Out, hordas de turistas no Átrio de São Bento, com as muito turísticas Mouzinho da Silveira e Rua das Flores ao perto.
Mais para cima, a Avenida que deixou de ter continuação. Tirando um ocasional passeio de curiosidade, nada me atrai para essa zona caótica, poluída, sem valências.
“Posto isto, sendo consensual que o Centro Histórico tem falta de residentes, como é que isso se resolve?” dito pelo Tiago. A realidade é mais abrangente. O Porto tem falta de residentes. Como se resolve? Há maneiras. Implicam mudanças no modo de pensar, sentir a cidade, para onde ir.
O espaço verde para o que é, ou era, a Avenida da Ponte não tem de ser um jardim.
Diz o Alexandre:
“o que hoje necessita esta área não é mais uma Avenida, porque já não existe, mas sim uma reinvenção deste espaço urbano, colmatando empenas e feridas existentes, atribuindo-lhe construção a uma escala adequada ao contexto e com função integrada na cidade.”
Muito bem. Qual a reinvenção desse espaço urbano, entalado entre um Centro, uma Baixa, edificada, sufocada, sem espaços verdes, piscina pública, parques infantis, e afins?
Diz igualmente o Alexandre:
“Não defendo nesta fase mais o que um levantamento rigoroso e uma discussão, noutra o Desenho Urbano.”
E a debater temos andado. Concordo com o Alexandre. Não se deve atribuir o projecto, qualquer que ele seja, a seja quem for sem antes haver discussão pública.
Tiago, o Saldanha, a Estefânia, Arroios, para um Lisboeta, ou para quem, como eu, viveu em Lisboa, não são o Centro. O Centro é o Centro Histórico, Mouraria, Alfama, Castelo, etc. e a Baixa Pombalina, que sofrem dos mesmos males que o nosso Centro Histórico e Baixa.
Quanto à Discussão Urbanistica apontada pelo Alexandre:
“Governar a cidade é 80% tratar de Urbanismo. É uma Ciência e é uma Arte que para agir necessita de compreender e, por isso, é complementada pela Sociologia, Geografia, História, Economia, e para saber dar respostas ainda necessita da Engenharia e da Arquitectura. (Naturalmente poderíamos acrescentar mais.)”
Acrescento ao acima 80% Urbanismo e Humanismo e História da Arte e Património. Os processos e a sua linguagem são incompreensíveis para a maior parte dos cidadãos. Até para mim, em boa parte o são. Como muitas outras coisas, os processos são feitos para serem entendidos por uma minoria, afastando do debate, do pensar, do ponderar, a generalidade dos cidadãos.
Sem abandonar a necessária linguagem técnica, a apresentação dos projectos deveria ter linguagem acessível e compreensível a todos. De outro modo, continuaremos a ter cidadãos de costas voltadas aos seus próprios interesses, bem-estar e, claro, sem intervir no destino da cidade, que é, também, o seu.