O mais recente texto do Alexandre relativo à VCI e as promessas sobre a mesma, veio em boa altura. Em boa altura por, como muitas vezes, eu ter ido dar uma passeata nocturna. Pela milésima vez veio-me ao pensamento, “Quando tiram esta coisa – a VCI -, daqui?” Ou, pelo menos, arranjam modo de amenizar o ruído, a poluição, o cheiro. Moro junto à VCI. É mesmo ali, ao fundo da rua. Da rua que ficou cortada, com promessa de passagem para o outro lado. Agora, com a destruição do pequeno jardim, do outro lado da rua, o tal, desligado deste lado, entre o Conde de Ferreira, a VCI e a Avenida Fernão de Magalhães, tornou-se ainda mais insuportável o ruído, o cheiro, o calor. No local do pequeno jardim vão surgir prédios de apartamentos de luxo. Para quem?
Numa cidade com menos de um quarto de milhão de habitantes, constantemente a perder gente, pejada de prédios, apartamentos, casas vazias, em bom, assim-assim, e mau estado, que podiam ser utilizadas, deitam-de abaixo, destroem-se espaços verdes, para se construir mais apartamentos de luxo. É uma dor de alma passar pelo espaço do abrigo jardim. A maioria das árvores foi abatida.
Passou a ver-se os prédios da Fernão de Magalhães. Perdemos um espaço verde, um pequeno aconchego e refúgio para, um destes dias, vermos os novos prédios de luxo.
Escreve o Alexandre: “As grandes urbes do futuro não são desenhadas em torno do automóvel, mas em torno das pessoas. São elas que merecem uma cidade viva, pulsante, onde se possam mover sem obstáculos, sem ruído, sem poluição. E o Porto, se tiver a coragem de olhar para além das promessas de circunstância, pode também alcançar essa visão. Mas até que o faça, até que a VCI deixe de ser essa ferida aberta no corpo da cidade, temo que continuaremos a ouvir promessas, sem jamais ver soluções verdadeiras.”
As grandes, médias, ou pequenas urbes do futuro, são, de facto, desenhadas, pensadas para as pessoas, não em torno do automóvel. O Porto ou não recebeu o memorando, ou esqueceu-o algures. Continua no passado. No automóvel, na construção, no turismo sem rei nem roque. Futuro parece ser coisa desconhecida. Na construção, estamos em alta, nos espaços verdes, em baixa. Aqui na zona, é um frenesim, incluidor de destruição de logradouros, jardins e quintas de moradias, substituídos por betão, calçada portuguesa ou outras matérias. Lojas transformadas em garagens, levando a ruas desoladas, sem gente. E, claro, temos ali a VCI ao lado. A questão da VCI vai para lá da mesma. De a fazer desaparecer do meio da cidade. Se, porventura, deixar de existir, o que será feito com o espaço da mesma? Mais prédios? Um corredor verde, ao jeito da High Line, em Nova Iorque?
Falando em Nova Iorque. Por lá, também há casa aos jardins. O Elizabeth Street Garden também está em risco, por o Mayor de Nova Iorque aí querer construir habitação social. Ao contrário do pequeno jardim aqui da zona, o Elizabeth Street Garden tem amigos conhecidos, como a Patti Smith, o Martim Scorcese, o Robert de Niro, e muitos outros conhecidos e desconhecidos, que lutam por ele. Amigos que propuseram várias alternativas viáveis para a construção de habitação social, que se organizaram para criar um Land Trust de modo a poderem adquirir e preservar o jardim. No Porto, ficamos, quase sempre, quietos e calados. Seja em relação à VCI, ao pequeno jardim junto à mesma, a Impermeabilização do solo, do que seja.
Apesar de ter havido quem, brevemente, tenha manifestado o seu desagrado pela destruição do pequeno jardim. Os panos de protesto desaparecem num piscar de olhos. Quanto à paragem do autocarro 300, junto ao ex-jardim, na qual ninguém está ou sai, e ao novo, absurdo, trajecto do referido autocarro, o assunto fica para outro texto.