VCI – Promessas – “Sempre quentes, nunca servidas”

A visita do Ministro das Infraestruturas ao Porto trouxe a velha promessa de sempre: até ao final do ano, haverá uma solução para a VCI. Sim, a mesma VCI que corta a cidade ao meio como se fosse uma auto-estrada no meio de um parque infantil. E, claro, ouviu-se a ladainha habitual. Que se vão estudar alternativas, que se vai resolver o problema, que é uma prioridade. Mas, honestamente, quem ainda acredita nisso?

O Porto convive há décadas com esta aberração urbanística, e sempre que o tema volta à agenda surgem soluções que mais parecem pensadas para manter o status quo. Proibir os camiões de passar na VCI? Deixar de portajar as vias alternativas? Isso não são soluções, são remendos. E remendos que já conhecemos bem. Nenhuma dessas medidas vai resolver o problema central: a VCI continua a ser uma auto-estrada a rasgar uma cidade que, francamente, merecia muito melhor.

Qualquer tentativa séria de resolver o problema da VCI passa, obrigatoriamente, por desclassificá-la como auto-estrada. Mas esse tipo de medida implica uma coragem política que, até agora, ninguém demonstrou. Desclassificar a VCI significa repensar a mobilidade do Porto, redireccionar o trânsito, investir em infraestruturas alternativas e, acima de tudo, admitir que não se pode ter uma cidade moderna com uma auto-estrada no meio.

O problema é que as promessas sobre a VCI não são novas. Eu, como tantos outros, já deixei de acreditar. Deixei de esperar que, de repente, alguém em Lisboa perceba que uma cidade como o Porto não pode viver permanentemente sob o jugo de uma estrada que causa mais problemas do que resolve. E enquanto continuarmos a ouvir os governantes a falar de “soluções”, sem nunca realmente mexer no cerne da questão, vamos continuar na mesma.

Aliás, a maior falha aqui não é a falta de ideias, é a falta de vontade de assumir que para melhorar o Porto é preciso fazer escolhas difíceis. É preciso pôr fim a esta ideia peregrina de que uma auto-estrada pode atravessar o coração de uma cidade e que isso é normal. Não, não é normal. E as cidades que perceberam isso já tomaram as medidas necessárias. Cidades modernas e bem-sucedidas não permitem que as auto-estradas as dividam. É uma regra básica do urbanismo: cidades são para pessoas que nela vivem e trabalhem, não para as que por ela passam e atravessam, ainda para mais de carro ou camião.

Não, senhores, nenhuma auto-estrada deve atravessar uma cidade. Esta é a primeira regra do urbanismo, ou deveria ser. As grandes urbes do futuro não são desenhadas em torno do automóvel, mas em torno das pessoas. São elas que merecem uma cidade viva, pulsante, onde se possam mover sem obstáculos, sem ruído, sem poluição. E o Porto, se tiver a coragem de olhar para além das promessas de circunstância, pode também alcançar essa visão. Mas até que o faça, até que a VCI deixe de ser essa ferida aberta no corpo da cidade, temo que continuaremos a ouvir promessas, sem jamais ver soluções verdadeiras.

Portanto, sim, podem continuar a prometer que até ao fim do ano haverá uma solução para a VCI. Mas enquanto essa solução não passar por retirar o estatuto de auto-estrada e integrar a VCI de forma inteligente no espaço urbano, não vamos a lado nenhum. Até lá, é só mais uma promessa que soa bem, mas que não vai resolver absolutamente nada.

Divulgar:

Publicado

em

por

Etiquetas: