Em 2002, Rui Rio foi eleito Presidente da Câmara do Porto, cavalgando a promessa de impedir uma alegada ameaça de construção no Parque da Cidade. A polémica girava em torno de um estudo urbanístico para a frente da Estrada da Circunvalação, onde se previa um total de 20.000 m2 de área edificada. Curiosamente, o terreno em questão não pertencia ao Parque da Cidade, mas, em contrapartida, oferecia à cidade a cedência de mais 54.000 m2 ao Parque.
No entanto, como tantas vezes acontece, a ignorância tornou-se atrevida e inflamou um movimento popular de oposição, ao qual Rui Rio e o PSD prontamente aderiram. O objectivo era claro: capitalizar a controvérsia para ganhar as eleições e travar qualquer construção, sem olhar para o verdadeiro mérito da proposta.
Para melhor compreensão do que aqui se discute, apresento algumas imagens elucidativas sobre a área em questão:

Primeira imagem: Uma fotografia da época, onde se vislumbra a ausência de qualquer edificação, mas com uma vasta área pavimentada.

Segunda imagem: A evolução dessa mesma área ao longo dos anos e dos mandatos de Rui Rio. Aqui, podemos ver como o espaço se transformou em palco para eventos como a Feira do Continente e outros do género. Incrivelmente, até um aeroporto improvisado surgiu no local!

Terceira imagem: Uma imagem actual da mesma área. A redução da área impermeabilizada é evidente ao longo dos anos, mas a ironia persiste: apesar da tão proclamada diminuição, ainda hoje se mantém uma vasta extensão pavimentada, nunca verdadeiramente reduzida. Mais do que isso, surgiram novas instalações desportivas, que somam cerca de 10.000 m2 de construção e 20.000 m2 de área impermeabilizada.

Para que não restem dúvidas, devo desde já esclarecer que nunca fui, nem sou, contra a construção no Parque da Cidade. Pelo contrário, entendo que a sua concepção original previa precisamente uma integração equilibrada de diversas frentes urbanas. Também não tenho qualquer objecção à existência das instalações desportivas que lá se encontram. Cresceram, é certo, e à boa maneira portuguesa, “para todos os lados”. Mas, sinceramente, nem a sua aparência nem o seu uso me incomodam.
O que verdadeiramente perturba — e isso sim, é difícil de aceitar — é a amarga constatação de como é fácil enganar tantos, durante tanto tempo.