O Turismo na Moda e a Entorse Urbana, ou Quando a Burocracia se transforma em Comédia

Esta febre turística e este Porto de “moda” são, sem dúvida, uma oportunidade. Mas, como qualquer tendência levada ao extremo, acabam frequentemente por descambar no ridículo — algo que o artigo de David Afonso expõe de forma brilhante. E se as palavras dele já são eloquentes, estas imagens que aqui partilho superam qualquer descrição. Elas capturam, com precisão e ironia, a caricatura que por vezes se torna a cidade de excessos e contrastes.

Estas ilustrações são do António Ferreira dos Santos, ou simplesmente F’Santos, arquitecto e cartoonista com uma visão tão apurada quanto mordaz. Poucos tinham o dom de traduzir, com tanto humor e crítica, o caos organizado que é o planeamento urbano em Portugal.

Afinal, quem melhor para desenhar os absurdos da burocracia do que alguém que viveu por dentro das entranhas de uma repartição pública? Ele sabia, como ninguém, expor os disparates que passavam por “visões de futuro” e que, na prática, não eram mais do que exercícios de surrealismo administrativo.

Infelizmente, já não temos F’Santos entre nós. Mas a sua obra continua, como um espelho irónico, a lembrar-nos de que, quando se trata de planeamento urbano em Portugal, a fronteira entre a comédia e a tragédia é sempre muito ténue.

Agora, a propósito de que este governo decidiu atropelar o frágil equilíbrio entre o espaço Rural e o espaço Urbano com o Decreto-Lei n.º 117/2024, a que alguém se atreveu a chamar de “Entorse”. Esta nova peça legislativa mexe, com a leveza de um elefante numa loja de porcelanas, nas fronteiras entre o rural e o urbano, confundindo territórios e interesses.

Divulgar:

Publicado

em

por

Etiquetas: