Da Mercearia do Bolhão e de um Jardim ao Pé da VCI – Que Cidade Queremos?

A notícia do encerramento da Mercearia do Bolhão é mais uma, a juntar a várias, de como o Porto, de cidade com identidade, continua aceleradamente no caminho de misto de parque de diversões para turistas, cidade fantasma, ou cidade para eleitos de carteira gorda.

Do artigo do Porto Canal: “O senhor “que está agora”, Alberto Rodrigues, conta que antes a clientela era muita. “Tinha um rol impressionante de clientes”.“A maioria eram de bancos e companhias de seguro. Depois também havia aqui os residentes. Residentes que foram desaparecendo, porque deram lugar agora aos Alojamentos Locais. Isto teve uma transformação muito grande”, admite ao Porto Canal.”

O citado, as gigantescas alterações ao tecido, humano, social, económico da cidade advém de falta de pensamento integrado, flexível, de futuro. Pensamento esse em vigor há décadas.

Tendo-se retirado serviços, comércio, habitantes, do centro do Porto, assim como de outras zonas da cidade, ficou-se com um ovo de chocolate, oco por dentro, mas muito bem embalado num resplandecente papel dourado com laçarote em néon. Isso leva-me a outro ponto. O pequeno jardim entre o Conde de Ferreira e a Via de Cintura Interna.

Como referido no artigo do Público, o terreno pertence à Misericórdia, foi ajardinado pela Câmara Municipal do Porto, e serviu, durante muito tempo, os locais, eu incluída. É (era) o meu pequeno jardim. Fica mesmo junto à antiga casa dos meus avós maternos.

Três prédios de habitação? Um jardim, árvores, verde, um pulmão junto à poluição da Via de Cintura Interna, essa via do ruído, sobre a qual o Alexandre Burmester aqui tanto fala, e bem. Como referi, a antiga casa dos meus avós maternos – deixada de estar na posse da família antes de eu nascer -, é mesmo ali ao lado.

Uma de várias moradias vazias, às quais se juntam apartamentos, prédios sem inquilino. Várias das construções estão em diversos estados de degradação. A minha opção é a segunda. Paralela e, aparentemente, paradoxalmente, tudo o que é pequeno terreno, ou antigas pequenas casas unifamiliares, está a ser transformado em prédios feios, rivais de primeira dos construídos na época dos patos bravos. Boa parte desses prédios fica vazia.

O que queremos? Uma ilusão de cidade cosmopolita? Ou uma cidade única, com identidade, para os seus, capaz de os bem tratar e, assim, permitir o bom acolhimento de terceiros, ou esta cidade de fogo de vista, sem percepção do seu todo, do seu futuro?

Tiago, vi a tua intervenção na Assembleia Municipal. Gostei. Em relação à co-habitação (co-living), a meu ver deve ir para lá de multi-geracional.

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